Reações Hansênicas e Recidivas


Reações hansênicas são reações inflamatórias imunomediadas que podem acometer o paciente antes, durante ou após o tratamento com a poliquimioterapia (PQT), representando uma urgência. As reações podem persistir mesmo após o término da PQT.

Podem ser desencadeadas por: infecções, parasitose intestinal, stress físico ou emocional, cirurgias, traumas, vacinação, gestação, infecção periodontal, distúrbios hormonais, diabetes descompensado, fatores metabólicos, contato com paciente MB sem diagnóstico e tratamento. É importante tentar identificar o evento desencadeante e corrigir se possível.

Reação Hansênica Tipo 1 ou Reversa

É uma reação onde os sinais e sintomas estão localizados na pele e/ou nervos, não necessariamente restritos a um segmento do corpo. Febre e outros sintomas gerais são incomuns. Pode ocorrer nos pacientes paucibacilares e multibacilares.


Tratamento para reação hansenica tipo 1:
Segundo o PCDT (2022) recomenda-se a coriticoterapia com prednisona, administrada por via oral, na dose inicial de 1 mg/kg/dia, com redução gradual da dose diária em torno de 10 mg a cada 15 dias. Ao atingir a dose de 20 mg/dia, deve-se passar a reduzir 5 mg a cada 15 dias. Ao atingir a dose de 5 mg/dia, deve-se manter a dose por 15 dias seguidos e, posteriormente, passar para 5 mg/dia em dias alternados por mais 15 dias. A corticoterapia deve ser mantida, em média, por um período mínimo de 6 meses, monitorando-se periodicamente a função neural e os efeitos colaterais do medicamento. No início da corticoterapia, deve-se fazer a profilaxia da estrongiloidíase disseminada, prescrevendo albendazol 400 mg/dia, dose única diária, por 3 dias consecutivos; ou ainda, Ivermectina em dose única de 200 microgramas/kg.

Em crianças: prescrever corticoides com base em regimes de adultos, adaptados para o peso e idade da criança. Os riscos específicos dos esteróides em crianças (efeitos no crescimento esquelético e na puberdade) devem ser considerados, além dos eventos adversos gerais. Deve-se buscar orientação pediátrica se a criança precisar de mais de três meses de tratamento ou se doses acima de 1 mg/kg forem consideradas.

Reação Hansênica Tipo 2 ou Eritema Nodoso

É uma reação sistêmica onde os sinais e sintomas estão localizados, além da pele e nervos, em outros órgãos. Febre e outros sintomas gerais são comuns. Ocorre apenas nos pacientes multibacilares. Pode se apresentar de formas variadas.




Tratamento para Reação Hansênica Tipo 2:
Segundo o PCDT (2022) É feito preferencialmente com a talidomida, administrada por via oral na dose de 100 a 400 mg/dia, conforme a intensidade do quadro. Nos pacientes que apresentam quadros associados à orquite, episclerite e/ou neurite aguda (definida pela palpação dos nervos periféricos e pela avaliação da função neural), o tratamento deverá ser feito com corticosteroides como descrito para a reação tipo 1.

A dose da talidomida também deverá ser reduzida gradativamente conforme resposta terapêutica. Na associação de talidomida e corticoide, deve ser prescrito ácido acetilsalicílico 100 mg/dia como profilaxia para tromboembolismo.

Em crianças: O tratamento do ENH em crianças deve ser feito com clofazimina, na dose de 1,5 – 2 mg/Kg, três vezes ao dia no primeiro mês, 1,5 – 2 mg/Kg, duas vezes ao dia no segundo mês e 1,5 – 2 mg/Kg, uma vez ao dia no terceiro mês, não ultrapassando a dose máxima diária de 300 mg114. A família deve estar ciente do risco de dor abdominal aguda associada a uma sobrecarga de clofazimina.

Recidiva

Recidiva são todos os casos de hanseníase tratados regularmente com esquemas oficiais padronizados e corretamente indicados, que receberam alta por cura, e que voltam a apresentar novos sinais e sintomas clínicos de doença infecciosa ativa. Os casos de recidiva em hanseníase geralmente ocorrem em período superior a cinco anos após a cura. Após a confirmação da recidiva, esses casos devem ser notificados no modo de entrada “recidiva”.

Diante de um caso suspeito de recidiva a equipe deverá preencher a Ficha de Investigação de Suspeita de Recidiva e encaminhar o caso para a unidade de referência secundária via SISREG. Uma vez confirmado o diagnóstico, a unidade de saúde deve remeter a ficha para a SMS, juntamente com a Ficha de Notificação/Investigação da Hanseníase, anexando cópia no prontuário do paciente. A notificação de casos de recidiva deverá ser realizada pelo serviço de referência que procedeu à confirmação diagnóstica. Após avaliação, os casos confirmados e sem complicação deverão ser contrarreferenciados, para tratamento e acompanhamento na unidade básica de saúde.

Ambas as fichas se encontram nos anexos do Guia Prático da Hanseníase (2017).